Criado como forma de catarse, sem o objetivo de agradar nem ofender, apenas colocar pensamentos de uma mente "em cacos" para, com isso, encontrar aquele caco mais brilhante, digno do olhar dos deuses!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Retórica

19 de abril de 2009

Bom dia, pra mim ao menos. Eu não ia escrever, eu não queria escrever. Imaginei que a publicação da sua carta fosse humilhante demais e que depois daquilo eu não precisaria dizer mais nada. Me enganei! Como castigo àquilo tive insônia, me peguei pensando em você e achei injusto te deixar sem resposta!

Não, eu não tenho pensado sempre em você e acredito que, me conhecendo como conhece, isso não passou pela sua cabeça. O fato é que eu talvez não seja a “Majestade Perfeita” ou a “imperatriz da competência”, será que eu não consigo ser só... mulher? Esse foi o seu erro, o nosso erro! Deixamos de sentir, ou de demonstrar, e caímos numa rotina pesada de disputas e brincadeiras cheias de um ácido que, pouco a pouco, corroeu o que eu esperava de você e de mim.

Eu não te acho um completo idiota, nunca achei. Será que você não percebe que se isso fosse verdade nós não teríamos durado um mês? Você errou quando caiu na armadilha burra e inconsciente de jogar comigo um jogo que, eu sabia, só eu poderia vencer! Não aconteceu nada, ainda te amo e, ao contrário de você, sou capaz de dizer isso sem me emocionar nem pedir nada. A verdade é simples e incompatível conosco. Amar nunca foi suficiente e se tornou um inconveniente enorme pra nossa vida.

Sim, eu gargalhei quando te vi lutando como um tolo por mim aquele dia no bar. Foi a cena mais deprimente da minha vida e eu não acreditava que havia passado tanto tempo com alguém que foi capaz daquilo. Gargalhei sinceramente, mas não ria de você, ria de mim mesma e do grande engano que cometi ao escolher você, ao achar que éramos perfeitos. Naquela noite voltei pra casa e chorei nossos erros. Ninguém viu, ninguém soube. Minhas lágrimas eram suas e eu não sei dá-las a mais ninguém.

Eu senti sua falta, ouvi cada uma das histórias de minhas amigas sobre você e, apesar de saber que você fazia tudo de caso pensado, cada vez que ficava sabendo de você com outra me sentia traída. Depois de um tempo não agüentei, pedi que parassem de me dar notícias suas, pedi que me deixassem lembrar você como alguém digno do que eu te dei, pedi que seguissem em frente e te deixassem no passado como eu fiz. Eu não tenho mais classe pra te ferir por acaso, eu me tornei especialista em te ferir e usava cada oportunidade pra te machucar. Infantilidade? Tentativa de chamar sua atenção? Talvez, talvez eu não estivesse pronta pra deixar você me esquecer. Hoje eu estou.

Você deve estar achando tudo aqui muito previsível, exceto pelo fato de eu estar respondendo. Eu sempre fui muito certa do que queria, sempre fui atrás e lutei por isso. Que mulher forte, que jóia! Quando é que você iria pensar que alguém como eu te quereria? Uma mulher bonita, bem resolvida, trabalhadora, bem sucedida, inteligente e quebrada! Você não percebeu o eu por trás da cortina de qualidades. Aceitar meu teatro foi uma escolha infeliz pra você e pra mim. Às vezes acho que a sua esperança era que eu iria salvar sua vida, te tirar daquela rotina sem sal em que estava imerso. Mal sabia que eu esperava o mesmo de você, silenciosamente.

Tenho certeza que, na minha pressa de escrever essa porcaria de carta, fiz exatamente isso: um porcaria! Eu provavelmente assassinei a sintaxe inúmeras vezes, me esqueci da coesão e me mostrei incoerente e isso deve estar sendo a glória pra você. Não se iluda, isso não significa nada além do desprezo que sinto por você e por aquela carta melancólica e dramática! Por que você fez aquilo? Por que me obrigou a rir, mais uma vez, da minha escolha estúpida? Deixa-me te guardar como algo bom, por favor! Por favor...

Eu não sei se por orgulho ou por medo você não quis contar dos seus dias pós-termino. Eu contarei os meus porque, como disse, não tenho medo da verdade e, de algum jeito, você continua sendo o único que merece o que eu sinto- talvez porque sinta por você. Eu chorei sozinha naquele apartamento enorme por dias. Fumei maços e maços de cigarro pelo puro prazer de me lembrar como você odiava quando eu fumava. Cheguei ao ridículo de beber, sozinha, nossos vinhos prediletos, imaginando que você ainda estava lá. Cozinhei seus pratos preferidos, aluguei nossos filmes e dormi chorando embalada por nossas músicas.

De repente me senti muito pequena, troquei a cama de casal por uma de solteiro e comprei mais travesseiros na tentativa de ocupar seu lugar. Você deve estar se perguntando do “namorado” que desfilava comigo em todo lugar em que nos encontrávamos. Bom, ele era só isso, um namorado de festa, um manequim bem treinado pra me fazer parecer forte. Nunca o trouxe pra casa, homem nenhum dormiu do seu lado da cama, homem nenhum jamais ocupará o seu lugar. Eu estou indo longe demais nas confissões... Como é que você continua fazendo isso comigo? O que há com você que me faz agir assim? Que me faz ser tão frágil, tão segura de conforto? Eu não devia te mandar isso... Acho que vou guardar pra mim essas palavras, quem sabe as retire e mande apenas um bilhete mal criado? Veremos...

Enfim me restabeleci, voltei pro jornal e escrevi freneticamente. Não me diga que não reparou que eu fiquei um tempo sem escrever, eu sei que você ainda me lê, você me vê em cada linha, não é verdade? Lembro-me de você na cozinha, lindo com aquele pijama horroroso, o cabelo todo bagunçado, a cara de sono, xícara de café em uma mão e o jornal na outra. Eu sabia exatamente o que você estava lendo pela sua cara! Quando fazia uma cara muito séria estava lendo o horóscopo escondido e tentando disfarçar porque sabia que eu não acredito nisso. Quando fazia cara de bravo estava lendo sobre política. O caderno de esportes era o meu preferido, seus olhos atentos quase não me viam entrar. Mas quando você lia minha coluna, nossa! Seus olhos brilhavam de orgulho e um meio sorriso se desenhava naquela boca perfeita... Como eu te amava!

Me perdi de novo em nós, isso acontece com uma freqüência quase insuportável. Eu te odeio por isso! Retomando o que dizia antes, voltei a escrever pro jornal e me sentia melhor, quase completa de novo. Foram semanas maravilhosas. Sentia-me forte, renovada, finalmente recuperada e pronta pra recomeçar até que? Você me escreve aquela carta inútil. Quando recebi aquele envelope, sem remetente tive um medo imediato de que fosse você e como eu me senti mal quando percebi que era mesmo.

Experimentei todas as sensações possíveis ao ler sua carta. Tive dó, tive medo, tive raiva e vontade de voltar. Quis te perdoar, mas a carta me mostrava o quão certa estava na minha decisão, você era fraco e eu não sei lidar com isso, eu não posso! Publiquei a carta como um recado pra você, como um pedido desesperado, queria que você sentisse tanta raiva de mim que nunca mais voltasse a pensar em mim! Mais um motivo pra não te procurar, eu sei. Acho que depois DESSA carta eu vou atingir meu objetivo... Você nunca mais quererá ouvir meu nome, que dirá pronunciá-lo. Apesar da dor que isso me causa eu prefiro assim.

Eu não sou boa em demonstrar o que sinto, você sabe. Relendo a carta percebi que, apesar de muito verdadeira, ela parece um relato frio do que aconteceu. Sempre presa a fatos e explicações lógicas. É incrível como conseguimos ir longe apesar de nossas diferenças. Por que de repente tudo parece tão perfeito? Eu não quero pensar que valemos a pena porque, sinceramente, não valemos! Você é quase um veneno pra mim, é uma droga e eu acabei de largar o vício. As lembranças me trouxeram a entorpecencia gostosa de estar com você e é por isso que tenho essa idéia absurda de nós dando certo. Não passa de uma crise de abstinência!

Não tenho mais o que escrever. Espero ter te respondido o que acabou conosco. Não quis te ofender hora nenhuma apesar de, provavelmente, tê-lo feito em alguma parte. Queria poder dizer que nós podemos continuar sendo amigos, mas não podemos. O sentimento que tínhamos/temos um pelo outro não suporta nenhum outro tipo de relacionamento. Esse amor Eros nos fez e nos destruiu e agora tudo o que temos é o passado. Não se lembre de mim. Esqueça-me todos os dias e siga em frente. Tudo o que fomos pertence, agora, ao passado.

Te desejo tudo de melhor, tudo de bom. Não quero te fazer mais mal do que já fiz. Eu não vou responder à sua provocação infantil. Eu jamais perderei meu emprego para uma professorinha de óculos e rabo de cavalo porque eu sou a melhor no que faço. Tente ser você um pouco do que sou e encare o fim como algo saudável. Você precisa crescer e eu seguir em frente! Não levo de nós dois uma saudade. Essa carta foi o ponto final, foi o ponto de recomeço pra mim. Não me procure, não me olhe, não pense em mim.

Um abraço.

P.S.: Você era bom no sexo, sim. Mas eu também já esqueci isso!



Isadora Perdigão

Um comentário:

Unknown disse...

Ahhh fazer sexo bem eu tbm faco e isso nao eh motivo pra relacionamentos serios!