Ainda que o busque a cada dia com um empenho único, começo a ver que saber-me- ou reconhecer tal sabedoria- é muito mais assustador do que admito. Certamente preciso ter em mim aquilo que me faz ser o que sou, mas entender o significado disso pegou-me desprevenida e, sem mais delongas, assombrou e tomou minha alma nessa tarde calma e morna de julho.
Ser-me dói um pouco todos os dias, mas entrar nisso foi quase insuportável. Não digo que descobri tudo, não o poderia, mas percebi em mim uma vontade genuína de ser e não estar. Saber, deixar as adivinhações pra quem se dedica a faze-las. Hoje sou a mesma de sempre, ou talvez seja outra completamente diferente, a verdade é que sinto-me como ao sussurro suave da brisa que embalou meu dia no balanço infantil de um brinquedo simples de ir e vir e querer voar.
Não dedicarei tempo, imaginação e folhas pra dizer quem habita essa massa identitária que leva meu nome. Não perderei nem mais um instante nesse vago trabalho de me justificar a mim. Escrevo apenas por ser esse meu prazer e hobbie mais sincero. Finalmente escrevo de mim pra mim, sem pretender alcançar ninguém, sem pedir que entendam, sem cobrar algo a quem tem nada.
Também não me peço a arte sublime de escrever como os autores que me inspiram. Dedico-me à simplicidade ingênua de defender uma teoria própria que talvez só se aplique a mim. Auto-conhecimento, conceito tão cobrado, difundido, enaltecido e creditado a mentes que, certamente, não posso competir. Auto-conhecimento, tudo aquilo que me foge e me atormenta por estar aqui e não estar, por ser tão visível a olhos que não são os meus. Auto-conhecimento, exatamente o que não preciso mais, não explicitamente, não declaradamente; quero tê-lo sem saber que tenho e mostrá-lo sem que o percebam. Teria alguém sugestão ou regra que me ajude a alcançar o que almejo? Acho que não...
Sempre fui inconclusiva e isso marca, ao meu ver, boa parte de minha “obra” (coloco entre aspas por não achar competência suficiente para me dizer escritora). Deve ser porque trago o que escrevo pra muito perto de mim, do que penso ou sinto ou vivo ou acredito viver. Fato é que, nesse exato momento, não acho palavras ou dogmas que preencham mais linhas desse texto. A falta de objetivo devorou possíveis idéias que pudessem me socorrer nessa falta de léxico e semântica absurda. Termino, pois, minha matéria discursiva, sem moral e, muito provavelmente, sem sentido. Não espero nada e me sinto feliz por apenas ter podido ter essas linhas tão mais crescidas que eu.
Isadora Perdigão
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