Criado como forma de catarse, sem o objetivo de agradar nem ofender, apenas colocar pensamentos de uma mente "em cacos" para, com isso, encontrar aquele caco mais brilhante, digno do olhar dos deuses!

domingo, 10 de maio de 2009

Ponto final.


Secos. Olhos secos, boca seca, ela toda seca. Sabia que havia acabado, o peso no estômago era o mesmo das outras vezes, era frio, era seco, não doía nem sangrava, existia apenas! Olhava-o confusa, com dó? Com indiferença. Ainda assim não sabia como chegara ali, não sabia o que dizer e sentia-se falsa por não sabê-lo. Queria sumir e deixá-lo esquecer, não importava que ele a odiasse contanto que ela não precisasse encará-lo.

Virou-se, pegou a pequena porção de carinho que ainda tinha e colocou-a nos olhos. Quando ele a viu achou que estava chorando, não sabia que ela gastara, com essa despedida, a última porção do que sentira por ele. Olhar nos olhos suplicantes do rapaz a fez repensar, quis voltar atrás, quis manter uma farsa solidária, não pôde. Elegante, levantou-se e saiu. Por entre os lábios um beijo que não foi dado, um adeus velado.

Chegou à porta, tentou achá-lo, viu alguma coisa no chão, não era um homem nem era humano, não podia ficar. Ao encarar aquilo, aquele pedaço de orgulho dilacerado a seus pés, entendeu o motivo de sua partida. Reviveu um diálogo triste de revelação e desapontamento, ele era pouco, ele se tornou nada.

Pensou no que vivera de bom e de ruim e, sem exitar, apagou tudo. Por que se demorava à porta? Queria ter esperança, queria atendê-lo, queria não ir. O som dos segundos a despertou e o peso do silêncio a invadiu. A verdade é que havia barulho demais ali, choro, fraqueza e dor diante do que estava fazendo. Não agüentou, estava bem e, por isso, sorriu. Sorriu um sorriso cansado do fim. Sorriu para o fim. Sorriu pra si e acenou pra ele. Não voltaria, ela não voltou.



Isadora Perdigão