Secos. Olhos secos, boca seca, ela toda seca. Sabia que havia acabado, o peso no estômago era o mesmo das outras vezes, era frio, era seco, não doía nem sangrava, existia apenas! Olhava-o confusa, com dó? Com indiferença. Ainda assim não sabia como chegara ali, não sabia o que dizer e sentia-se falsa por não sabê-lo. Queria sumir e deixá-lo esquecer, não importava que ele a odiasse contanto que ela não precisasse encará-lo.
Virou-se, pegou a pequena porção de carinho que ainda tinha e colocou-a nos olhos. Quando ele a viu achou que estava chorando, não sabia que ela gastara, com essa despedida, a última porção do que sentira por ele. Olhar nos olhos suplicantes do rapaz a fez repensar, quis voltar atrás, quis manter uma farsa solidária, não pôde. Elegante, levantou-se e saiu. Por entre os lábios um beijo que não foi dado, um adeus velado.
Chegou à porta, tentou achá-lo, viu alguma coisa no chão, não era um homem nem era humano, não podia ficar. Ao encarar aquilo, aquele pedaço de orgulho dilacerado a seus pés, entendeu o motivo de sua partida. Reviveu um diálogo triste de revelação e desapontamento, ele era pouco, ele se tornou nada.
Pensou no que vivera de bom e de ruim e, sem exitar, apagou tudo. Por que se demorava à porta? Queria ter esperança, queria atendê-lo, queria não ir. O som dos segundos a despertou e o peso do silêncio a invadiu. A verdade é que havia barulho demais ali, choro, fraqueza e dor diante do que estava fazendo. Não agüentou, estava bem e, por isso, sorriu. Sorriu um sorriso cansado do fim. Sorriu para o fim. Sorriu pra si e acenou pra ele. Não voltaria, ela não voltou.
Isadora Perdigão